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a galiza remota: os ancares e o courel



Andávamos nós pelo norte de Espanha, quando nos deparámos no site do Turismo da Galiza com as pouco exploradas serras de Os Ancares e O Courel que, em conjunto, se transformam na maior reserva verde da Galiza. Esta zona remota, situada entre Lugo e as fronteiras das regiões autónomas das Astúrias e de Castela e Leão, apresenta uma paisagem extrema de montanha e um património cultural recheado de tradições.

Por termos ficado encantados e surpreendidos com esta região desconhecida da Galiza, partilhamos este nosso roteiro de dois dias. Assumimos que não é suficiente para conhecer toda esta rica região, mas mesmo assim, este roteiro levou-nos pelo verde destas reservas, com as suas florestas incríveis de castanheiros, pelas estradas vertiginosas destas desconhecidas cadeias montanhosas, pelo misticismo do incrível Camiño Francês de Santiago, pelas aldeias típicas com as suas pallozas, as casas de pedra com telhados de colmo, e pelas fortes tradições que estes povos criaram para sobreviver e combater o isolamento que estas paisagens antigas impunham.

Apesar de ser uma rota árdua de se fazer de autocaravana, no fim do dia, cansados, adormecemos com a incrível sensação de que, por diversas vezes, tocámos no topo do mundo.



DIA 1 | OS ANCARES

ITINERÁRIO | LE-4211 - Piornedo - Doiras - Perafita do Cebreiro - O Cebreiro


Iniciámos este nosso roteiro pela Serra Os Ancares quando apanhámos a incrível estrada panorâmica LE-4211. Ainda na região de Castela e Leão, esta estrada começa a apresentar-nos as características que nos iriam acompanhar por esta serra da Galiza. Aldeias tradicionais, com as suas casas de pedra e pequenas igrejas sineiras, já não tão isoladas, mas mesmo assim com alguma dificuldade de acesso, principalmente no Inverno. Com estradas estreitas, degradadas e com inclinações exageradamente acentuadas, sempre acompanhadas por enormes castanheiros retorcidos.

A nossa primeira paragem foi no miradouro do Puerto de Ancares e foi onde tivemos a maior impressão, a percorrer estas terras, de estarmos a tocar no topo do mundo. Daqui avistamos a estrada e as características que vivenciámos lá atrás e aquilo que nos iria esperar daí para a frente. Ter atenção que durante o Inverno esta estrada pode estar encerrada por causa da neve.

Piornedo foi a primeira aldeia desta região que nos apresentou às famosas pallozas, as casas de pedra com os seus telhados de colmo. Depois de termos feito aqui o nosso almoço e termos esticado as pernas durante uma calma caminhada pelas ruelas deste conjunto etnográfico, seguimos viagem para um outro ponto interessante de visita desta serra: o Castelo de Doiras.

Pelo caminho fomos passando por aldeias típicas e paisagens rurais e idílicas, sempre recortadas pelas intensas estradas desta região: estreitas, degradadas e com inclinações de uma acentuação surreal. Tão acentuadas e surreais que tivemos que parar para ajudar um casal de idosos espanhóis, que andava a visitar esta região, que ficou sem água no radiador do carro. Voltámos a cruzar-nos com este simpático casal na aldeia seguinte, quando nos mandaram parar com duas cervejas na mão. Enquanto esperavam pelo seu almoço, num restaurante da aldeia, partilhámos os quatro umas cervejas e uma excelente conversa.

O Castelo de Doiras fica na aldeia com o mesmo nome. Este localiza-se no cimo de um pequeno monte, sem grande espaço para estacionamento de autocaravanas. É possível visitar o castelo, depois de subir a pé uma ladeira de terra batida, mas só a partir das 17h00, para quem for durante a tarde.

Ao final do dia chegámos à vila de Pedrafita do Cebreiro, que faz a fronteira entre as serras de Os Ancares e O Courel. Mas foi a visita à aldeia O Cebreiro que nos permitiu conhecer mais aprofundadamente as características destas serras. E onde tivemos um maior contacto com o misticismo de um dos mais interessantes Camiños de Santiago: o Camiño Francês.

O Cebreiro possui no seu conjunto etnográfico algumas das mais bens preservadas pallozas da região. É possível visitar o seu interior e perceber como se vivia antigamente nestas casas serranas e como estas eram organizadas. Esta aldeia também possui um ponto de paragem obrigatório para quem segue o caminho de Santiago: o Santuário de Santa María A Real. É aqui que os peregrinos, seja a pé ou de bicicleta, param para procurar uma pernoita ou outro tipo de apoio que precisem durante o seu camiño. O Cebreiro é a mais famosa aldeia da região. E o que a torna ainda mais famosa é o seu queijo fresco e artesanal.

É possível ficar a pernoitar nesta aldeia, mas como queríamos sair bem cedo para fazer o trajecto da Serra O Courel, a partir de Becerreá, fomos fazer a nossa pernoita na ASA de As Nogais.













 

PERNOITA | ASA Nogais

| Gratuita |

Equipamentos/ Serviços para Autocaravanas: água (gratuita), zona para manutenção das águas, zona para despejo/ manutenção da sanita, parque de merendas e contentores do lixo.

 

Esta ASA municipal, completamente gratuita, fica nas imediações da vila As Nogais. Tem espaço para 6 autocaravanas e zona de manutenção/ despejos de águas e sanitas.

Apesar de se localizar muito perto de uma via rápida, esta ASA fica resguardada por alguns edifícios públicos e desportivos da vila, o que proporciona uma pernoita muito sossegada. Não existem muitos serviços/ equipamentos nas imediações, como mercearias, restaurantes, bombas de gasolina,... a dar apoio a este espaço, mas o centro da vila está relativamente perto.

Mas o ponto alto da pernoita nesta ASA foi mesmo o acordar. O sossego que sentimos durante a noite foi reforçado pelas paisagens panorâmicas com as suas neblinas matinais.



 



DIA 2 | O COUREL

ITINERÁRIO | Samos - O Incio - Seceda - Quiroga - A Seara - Visuña - Seoane do Courel - O Cebreiro


Este nosso segundo dia foi dedicado à serra O Courel, que teve início na vila de Becerreá. A partir desta vila até Samos percorremos um dos trilhos mais concorridos do Caminho Francês de Santiago. Passámos por muitos peregrinos e por alguns pontos importantes de paragem, como a Igreja de Santiago, na aldeia de Triacastela.

Antes deste camiño se tornar mais espiritual do que religioso, as igrejas e capelas eram locais obrigatórios de paragem e transformavam-se assim em pontos de referência do percurso que se estava a percorrer. Ainda hoje é visível essa tradição, como ficámos a perceber na vila de Samos com o seu importante Mosteiro de San Xulían, que disponibiliza hospedagem e presta apoio aos inúmeros peregrinos que por aqui passam. É possível conhecer o Mosteiro através de visitas guiadas, realizadas por um dos monges que aqui residem.

Depois de Samos, seguimos viagem até à aldeia O Hospital onde fomos encontrar um outro ponto religioso de destaque: a bela e isolada Igrexa de San Pedro Fiz do Hospital. Se já estávamos encantados com as paisagens destas estradas, foi a partir daqui que começámos a sentir as verdadeiras características desta serra: estradas serpenteantes que atravessam penhascos pintados de verde.

A nossa próxima paragem seria na típica povoação de Seceda. Esta aldeia foi completamente restaurada e mostra-nos as belas características serranas desta região galega, com as suas casas em pedra e telhados de xisto. Mas também ficamos com a noção do isolamento e da vida árdua dos povos deste canto da serra.

Sem vontade de parar para fazer o almoço, fomos seguindo por estas estradas e por estas aldeias serranas à procura de um bom restaurante. Sem pressa, já que os horários das refeições espanholas são tão diferentes dos nossos, continuámos a serpentear por estas estradas, onde parámos algumas vezes nos muitos miradouros que fomos encontrando.

E às 15h30 finalmente parámos no Restaurante Parrillada Torres, em Quiroga, para matarmos a fome, que há muito sentíamos. E lá tivemos que experimentar uma parrillada (churrasco de vários tipos de carnes), muito tradicional nesta zona interior da Galiza.

Depois deste reforçado almoço e depois de algumas compras na mercearia da vila, seguimos para a aldeia Bustelo de Fisteus, prontos para a segunda etapa deste nosso itinerário. Mas o tempo imprevisível destas intensas serras galegas começou a mudar. A forte chuva que caía não permitiu as paragens e as visitas a alguns locais que tínhamos previsto fazer, como as aldeias A Seara, Ferramulín, Visuña ou Folgoso do Courel.

Apenas parámos, à beira da estrada, para fotografar rapidamente as ruínas do Castelo do Carbedo, que se encontravam ao longe no alto de um pequeno monte, rodeado pela cordilheira desta serra incrível. Passámos também rapidamente pela vila Seoane do Courel em direcção à aldeia O Cebreiro, a qual visitámos no dia anterior, à procura de uma pernoita segura, já que nestes últimos quilómetros começou a cair uma forte tempestade serrana. E esta famosa aldeia proporcionou-nos essa pernoita.















 

PERNOITA | Parque de Estacionamento (traseiras da aldeia)

| Gratuito |

 

Desconhecemos se é permitido, ou não, pernoitar neste pequeno parque de estacionamento, já que há outros espaços perto da aldeia muito utilizados pelos companheiros autocaravanistas. No entanto, este pequeno descampado deu-nos a sensação de segurança que estávamos à procura, pois a trovoada forte e a chuva intensa fizeram-se sentir durante toda a noite.

Ninguém nos chamou a atenção nem havia sinalização a indicar qualquer tipo de proibição, mas também acreditamos que com a tempestade que se seguiu ninguém teria coragem de nos fazer mudar de sítio.

Na verdade, mesmo com o tempo que se fez sentir durante toda a noite, tivemos uma das melhores pernoitas desta nossa passagem por Espanha, devido ao inesquecível amanhecer que tivemos a sorte de presenciar.

Acordámos com a Serra O Courel cheia de neblinas e com um sol matinal brilhante. Estacionados mesmo nas traseiras da aldeia, depois de tomarmos o nosso pequeno-almoço, ainda tivemos a oportunidade de fazer um passeio pelas ruas adormecidas e tomarmos um café expresso, antes de seguirmos viagem.


Este espaço de estacionamento não possui qualquer tipo de serviços/ equipamentos para autocaravanas.



 


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