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a casa do alemão, uma experiência singular


Durante o nosso roteiro de 5 dias pela Costa da Morte, na Galiza, enquanto nos cruzávamos com alguns dos recantos do Camiño dos Faros, fomos encontrar uma das histórias mais singulares e curiosas de todo o nosso percurso: a Casa do Alemão.

Este espaço, que, supostamente, também é um museu, localiza-se no fim da vila piscatória de Camelle, em pleno cais do porto. E é aqui que nos apercebemos, com mais clareza, da vida dura desta região e das muitas tragédias aqui ocorridas, não só as humanas, mas também as ambientais.

Esta percepção torna-se ainda mais intensa, quando ficamos a saber que estamos no coração da Costa da Morte, assim denominada pelos muitos naufrágios ocorridos nestes mares. É nesta costa onde se encontra o número mais elevado de destroços de naufrágios do mundo.

E talvez por causa destes elevados episódios dramáticos e trágicos, as gentes de Camelle e de Arou têm demonstrado um enorme espírito de sacrifício e de heroísmo, na hora de ajudar no resgate dos náufragos destes recorrentes acidentes. Heroísmo esse que já foi reconhecido pela Coroa Britânica, com as várias condecorações e homenagens, que tem atribuído ao longo dos séculos a este povo, que nunca cruzou os braços perante as adversidades.

Mas a bravura não se esgota no momento de socorrer aqueles que o mar teima em roubar. São também momentos de bravura nos longos períodos de dificuldades e de fomes, quando as marés negras, de um naufrágio qualquer, vêm banhar estas costas e comprometer a sua subsistência.

E foi neste contexto, nos anos 1970, que surgiu um jovem vindo da Alemanha, Manfred Gnädinger, mais conhecido nesta região como Man, o Alemão de Camelle. Fascinado com as histórias contadas por uma galega, natural da cidade de Muxía, decide deixar o seu país e ir à procura desse recanto descrito nesses relatos.

É em Camelle, em plena Costa da Morte, onde compra um pequeno terreno, e constrói uma minúscula casa, sem água ou electricidade, para poder viver em harmonia com esta extraordinária paisagem. E durante anos, criou esculturas com os diferentes materiais existentes na paisagem e na natureza, como rochas, ossos de animais ou artes de pesca, sempre em sintonia com as diferentes formas que esta natureza e este mar agreste provocam.

Com o seu falecimento em 2002, após a primeira vaga de crude derramada pelo conhecido acidente do Prestige, que afectou de negro a sua casa e as suas esculturas, esta casa e o espaço envolvente, transformaram-se numa curiosidade e num museu. Um museu a céu aberto, que pode ser apreciado por qualquer um.

Ainda nos dias de hoje, é possível apreciar o que resta deste curioso trabalho, mas ficámos com a sensação de que não será por muito mais tempo, já que os Invernos rigorosos desta costa têm contribuído para uma grande degradação desta casa e destas esculturas. Por isso aproveitámos para testemunhar as tentativas deste homem para proteger a natureza e a paisagem deste recanto do mundo. O seu último desejo foi que a sua casa e as suas esculturas, atingidas pelo crude do Prestige, não fossem limpas. E ainda hoje conseguimos testemunhar alguns vestígios dessa maré negra.











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