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  • Foto do escritoras aventuras da judite

características e contrastes marroquinos

Marrocos está apenas a 13 km de distância da Europa e a 1 hora de ferry. Mal pisamos o pé em terras marroquinas rapidamente nos apercebemos que, mesmo com esta proximidade, é um país que não se deixa influenciar pelas culturas europeias.

Mantém as suas características tradicionais e culturais quase intocáveis. Tão exóticas para os europeus, algumas delas estão repletas de contradições e outras são demasiado retrógradas, mas que tornam este país completamente único.

Elencamos aqui algumas dessas características da cultura marroquina, umas curiosas outras caricatas, observadas ao longo de 12 dias de viagem, na companhia da Judite, as quais nos permitiram sentir de forma muito pessoal este país tão singular.

Estas percepções são meramente percepções. Algumas são factos assegurados pelos próprios marroquinos, enquanto que outras são visões pessoais, influenciadas pela nossa própria identidade e cultura, tão distantes das marroquinas.

Estas visões, às vezes tão díspares, das visões de outros viajantes, só prova que as viagens e as experiências, por mais próximas que possam ser, serão sempre únicas. Por exemplo, o nosso primeiro grande choque, depois de tantas leituras, durante o nosso planeamento, foi sentir que Marrocos é realmente um país de odores, mas não tão exóticos e positivos, como tantas vezes descritos, de forma romantizada, nos guias e blogues de viagens.


  • As línguas oficiais de Marrocos são o árabe e o berbere. O francês e o espanhol são outras línguas muito usadas, na hora de interagir com os turistas. Quanto mais perto estivermos do continente europeu, mais provável é dirigirem-se a nós em espanhol, ao perceberem que somos portugueses.

  • A escrita destes dois idiomas, também usa alfabetos próprios. O alfabeto árabe, muito reconhecido pelos estrangeiros, e o alfabeto berbere, com caracteres que parecem uma mistura do grego e do cirílico. O nome das ruas ou as placas informativas, por norma, são escritas com os três alfabetos: latino, árabe e berbere.

  • Marrocos não é um estado laico e o islamismo é a religião dominante, mas muito tolerante com as minorias religiosas existentes no país, como o judaísmo e o cristianismo. Dificilmente, iremos conseguir entrar ou visitar espaços religiosos, já que estes estão vedados aos não-muçulmanos. Com a excepção de locais mais turísticos, como, por exemplo, a Mesquita Hassan II, em Casablanca.



  • Cinco vezes ao dia é possível ouvir o muezim, aquele que, do alto do minarete da mesquita, chama para as orações do dia. Para quem pernoitar perto de uma mesquita terá um despertador antes do nascer do sol, a primeira oração.

  • Marrocos é um país de grandes contrastes e de grande diversidade, sendo possível observar este facto pelo tipo do vestuário usado, ao longo das diferentes regiões do país.

  • Aos estrangeiros não é exigido nenhum tipo de vestuário específico, observando-se uma grande tolerância perante o vestuário ocidental usado, principalmente, pelas mulheres estrangeiras. Ao contrário, ao visitar-se um espaço religioso, é exigido o cumprimento das regras de vestuário muçulmanas. As mulheres terão de cobrir a cabeça e os homens não podem entrar de calções.



  • Sempre que um marroquino se aproxima de um viajante estrangeiro é sempre com a intenção de ganhar algum dinheiro. Sempre! A interacção vai começar por passar uma imagem desinteressada, mas a conversa, normalmente, depois de recusarmos toda a gama extraordinária de produtos que nos tentam vender, termina a oferecerem-nos ganza, se perceberem que somos portugueses, haxixe, se acharem que somos espanhóis.

  • Todas as cidades têm a sua medina, ou seja, a sua zona antiga, que é composta pelos seguintes edifícios: uma mesquita, um hammam, espaço para banhos públicos, um forno comunitário de pão, uma escola e um mercado, conhecido por souk.

  • Os souks são os mercados tradicionais, que se encontram ao correr de ruas estreitas e labirínticas. Repletos de pessoas, bancas com todo o tipo de produtos, comerciantes e por todo o tipo de diferentes meios de transporte de mercadorias, desde bicicletas, burros até motorizadas. Se ouvirem “Balak!”, desviem-se, pois quer dizer cuidado.



  • Não é normal haver preços afixados no comércio, porque, culturalmente, tudo em Marrocos é negociável. Seja um caro tapete berbere seja um mero íman. Esta negociação começa com o preço apontado pelo comerciante. A nossa contra-negociaçao deve começar por metade desse valor. Se não tivermos intenção de comprar, não devemos entrar nesse jogo. É considerado ofensivo.

  • Os horários e as dinâmicas quotidianas dos marroquinos são diferentes dos nossos. Só por volta das 11h00 da manhã é que se começa a perceber alguma movimentação nas cidades. O final da tarde e início da noite é o período mais concorrido por parte dos marroquinos para fazer as suas compras na medina e nos mercados.



  • Por questões religiosas, já que se acredita que um gato salvou o Profeta Maomé de um ataque de uma cobra, é possível observar o carinho que os marroquinos têm por estes animais. Por isso, estes estão por todo o lado, e são-lhes permitidas todas as liberdades.

  • Todos os outros animais não merecem este tipo de sensibilidade. Os cães são considerados impuros e, por isso, são deixados à sua sorte. Os animais de carga, como burros e cavalos, são usados para transporte, de mercadorias ou de pessoas, e é muito comum ver como esta carga é completamente exagerada. Animais exóticos como macacos e cobras, acorrentados e dopados, existem apenas para alguns ganharem uns trocos, nas cidades mais turísticas.

  • Os dromedários, os animais mais exóticos, para nós europeus, encontram-se por todo o lado, e não são usados apenas para transporte de turistas. O seu leite e a sua carne são produtos bastante caros e apreciados em Marrocos.



  • A maior parte dos homens marroquinos cumprimentam-se com dois beijos, passeiam de mãos dadas e conversam abraçados.

  • Em qualquer rua de Marrocos é possível ver as crianças a brincar livremente na rua, e até tarde. Mesmo nas cidades e zonas mais turísticas.

  • As crianças vão em grupo para a escola e é comum vê-las a pedir boleia depois de acabarem as aulas, a caminho de casa.

  • Em Marrocos, as escolas primárias são pintadas com cores coloridas, para que as crianças que têm de percorrer a pé vários quilómetros por dia para frequentar a escola, possam facilmente identificar ao longe o edifício no meio das restantes habitações.



  • Os viajantes têm por hábito atirar rebuçados pela janela das viaturas às crianças à beira da estrada. Por ser tão comum, as próprias crianças acenam às autocaravanas à espera que lhes caia alguma coisa.

  • Muitas crianças vendem à beira da estrada fruta e legumes. Nas regiões mais áridas, mulheres e crianças acenam com garrafas vazias, aos veículos que passam, para pedir água.

  • Embora seja um país e um povo muito fotogénicos, os marroquinos não gostam de ser fotografados. É falta de respeito fotografar sem pedir autorização, e se aceitarem ser fotografados, não tenham dúvidas que será sempre por um preço.

  • É aceitável fotografar tudo e todos com um telemóvel, mas não são tão tolerantes com quem se passeia com uma câmera fotográfica. Ouvirão constantemente berros a dizer “No photo”, mesmo que estejam com a máquina desligada ao pescoço ou a fotografar um gato.



  • Há uma grande escassez de transportes públicos, principalmente, no interior do país, por isso, quase todos os marroquinos andam à boleia, ou usam transportes colectivos alternativos, que por norma levam mais do que a carga prevista, como burros e cavalos com carroça, táxis com os interiores adulterados para levar até 7 pessoas ou carrinhas mercedes, que além dos passageiros, carregam malas e mercadorias no seu tejadilho.

  • Outra prática pouco agradável é a diferenciação de preços para estrangeiros e para marroquinos, seja nas entradas de monumentos históricos, seja em restaurantes.

  • Os marroquinos comem com as mãos, mas nunca o fazem com a mão esquerda, já que esta é considerada impura, pois é a mão usada para fazer a sua higiene pessoal. A mesma mão também não deve ser usada para cumprimentar um marroquino.

  • Os dois pratos tradicionais marroquinos são a tajine, uma espécie de guisado, que pode ser de peixe, carne ou apenas de legumes, feita numa panela de barro própria, e os famosos couscous. Geralmente estes pratos são comidos directamente com a mão, com a ajuda de pão.



  • Outra experiência gastronómica em Marrocos é a pastilla, uma tarte folhada coberta com açúcar em pó e canela, com recheio de carne de frango. O sabor é igual às nossas farturas, mas com um trago a carne pelo meio.

  • Nas cidades costeiras abundam o peixe e o marisco. O peixe é frito e servido numa travessa, a forma mais habitual de o cozinhar.

  • O pão é o alimento mais consumido em Marrocos. Feito em fornos comunitários, tem um formato redondo e achatado. É um dos produtos mais baratos, que pode ser comprado em qualquer local.



  • O chá de menta é outro produto muito consumido em Marrocos. E é possível ver como os marroquinos o consomem em qualquer altura do dia. Está tão presente, que por norma, a negociação da compra de um tapete começa com a partilha de um chá. Não tão consumido, mas igualmente apreciado, o café marroquino é muito saboroso. Basta pedir um café expresso, e temos quase um café à portuguesa.

  • O álcool é proibido pelo Islão, e muito dificilmente vamos encontrar locais que vendem ou sirvam bebidas alcoólicas, como vinho ou cerveja. A venda e o consumo é permitido aos turistas e muitas vezes pedem-nos garrafas de vinho como câmbio para algo que nos estejam a tentar vender, por ser um produto muito caro no país.

  • Em hotéis e resorts, o consumo de bebidas alcoólicas está muito banalizado, mas fora destes locais só se consegue adquirir estes produtos nas grandes superfícies comerciais, como o Carrefour. É bastante caro e está localizado normalmente numa cave do supermercado, com uma caixa e uma porta de saída à parte. Não é possível voltar para trás com estes bens para fazer outras compras. Parece que não querem que os outros produtos da loja sejam conspurcados.



  • Na rua ou nas grandes praças das cidades, há muitas barracas a vender alguns "petiscos", como caracóis cozidos, favas ou grão de bico. Também se vêem muitos comerciantes a vender frutos de cacto, a preços muito reduzidos. As azeitonas e as frutas secas também são uma alternativa para se ir petiscando ao longo das caminhadas pelas cidades.

  • Várias especiarias, como açafrão, pimenta, canela, hortelã, são usadas para condimentar a gastronomia marroquina e encontram-se em todo o lado, dando aquele aroma característico. Até a sopa marroquina, que é muito boa, é extremamente condimentada.

  • Nos tradicionais souks encontramos fruta e vegetais da época, com muita qualidade. Há um alguidar onde vamos colocando os produtos que serão pesados pelo comerciante. Convém andar sempre com uma saca.



  • Uma curiosidade observada em Marrocos, é que este é o país africano com maior consumo de açúcar. As sobremesas típicas são muito saborosas, mas extremamente doces, e é muito comum que os copos de café ou de chá venham acompanhados com 2 a 3 cubos de açúcar. Por norma, perguntam se queremos o café ou chá já com açúcar. Peçam para vir à parte, pois pode vir muito doce.

  • A carne de porco é proibida em Marrocos, por questões religiosas, mas todo o outro tipo de carne é muito consumido, como vaca, frango, borrego e até mesmo camelo. O peixe está mais reservado às zonas costeiras.

Muitas outras características e contrastes poderiam estar aqui elencados. Mas foram estas, as características que estiveram mais presentes durante esta viagem de 12 dias por terras marroquinas. Como já referimos, muitas delas assumiram um carácter exótico e curioso, outras foram bastante desagradáveis e caricatas, como a "hospitalidade" completamente interesseira, ou a agressividade para com os fotógrafos de câmera fotográfica. No entanto, não impediram que esta viagem fosse vivida de forma única e completa. Apenas a tornaram um pouco mais cansativa.




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