top of page
  • Foto do escritoras aventuras da judite

como é viajar de autocaravana por marrocos?


Tal como a experiência de dormir no deserto, o outro ponto alto desta viagem de 14 dias por Marrocos, foi poder explorar este exótico país na companhia da Judite. A liberdade que esta forma de viajar nos proporciona, na hora de ir desbravando os muitos quilómetros de estradas sem fim, as quais nos levam a fantásticas descobertas, sejam elas paisagens exóticas, sejam vilas e cidades cheias de história, é reforçada pelas facilidades que este país assume quando nos acolhe, tanto nas suas estradas como nos seus diferentes pontos de paragem.

E tal como as curiosas características e contrastes do povo marroquino, viajar de autocaravana também pode, por diversos motivos, tornar-se rapidamente caricato e desconcertante. Iremos tentar identificar alguns desses motivos aqui, mas também apontar algumas informações e dicas práticas, que poderão ajudar na hora da preparação de uma viagem por Marrocos.


Em Marrocos só precisamos de ter noção que apenas é cumprida uma única e obrigatória regra de trânsito: a velocidade. Tudo o resto é permitido, por mais estranho e confuso que possa parecer. E o não cumprimento das regras universais de trânsito é apenas um dia normal de condução pelas estradas marroquinas. Com carradas de paciência, de um santo qualquer, e depois de interiorizarmos esta importante característica, pois vai mantendo-nos em alerta, a viagem por Marrocos será perfeita.

No entanto, antes de mais, apesar dos preconceitos e reservas que tenhamos, há que ter noção de que Marrocos é um país muito fácil de se visitar e conhecer de autocaravana. E apesar dessas reservas, também por nós inicialmente partilhadas, rapidamente nos apercebemos que:

  • Marrocos é um país seguro, com um índice de criminalidade muito baixo. Em momento algum nos sentimos inseguros, mesmo durante as nossas pernoitas em estacionamentos públicos.

  • Não há que recear viajar sozinhos por Marrocos, sem a companhia de outros companheiros autocaravanistas. Durante toda a viagem sentimo-nos sempre bem acompanhados, já que Marrocos é um país muito visitado por outros companheiros, os quais fazem roteiros com etapas muito parecidas. E o engraçado foi cruzarmo-nos várias vezes com alguns desses mesmos companheiros ao longo das nossas diferentes etapas.

  • Apesar dos marroquinos possuírem a irritante característica de interesseiros, se precisarmos eles irão parar para ajudar, mas claro, sempre a um preço. Nada é gratuito neste país.



INFORMAÇÕES GERAIS

  • O Portal das Comunidades Portuguesas, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, tem identificadas todas as informações necessárias para quem viaja para e por Marrocos, incluindo os contactos telefónicos e morada da Embaixada Portuguesa, localizada em Rabat.

  • Os cidadãos portugueses não necessitam de visto para estadias turísticas até 90 dias, mas precisam de se fazer acompanhar de passaporte, com pelo menos 6 meses de validade.

  • Quem viajar com animais também tem de apresentar o boletim de vacinas internacional, uma espécie de passaporte, que é passado pelo veterinário, o qual tem conhecimento se os animais irão precisar de alguma vacina específica e obrigatória para entrar em Marrocos.

  • Para os cidadãos portugueses não é obrigatória nenhuma vacina específica.

  • Recomendamos um seguro de saúde, pelo período da viagem por Marrocos.

  • A entrada no país com autocaravana é muito simples, mas é obrigatório que a viatura esteja em nome de um dos passageiros.

  • Antes da viagem é preciso perceber se o seguro da autocaravana cobre o território de Marrocos. Se não for o caso basta contactar a companhia de seguros e solicitar uma extensão do seguro, pelo período da viagem. Os valores dessa extensão variam de acordo com a companhia de seguros e o número total de dias da viagem por território marroquino.

  • Também recomendamos a compra de um cartão SIM, para internet e telefone. Estes custam uma média de €20,00, com 20 Gb, pelo período de um mês. Há uma excelente cobertura de rede, por todo o país, incluindo no meio do deserto. Compram-se em qualquer lado, incluindo nas áreas de serviço das autoestradas. O telemóvel tem de estar desbloqueado.




FERRIES E FRONTEIRAS

  • Quem viaja de Portugal para Marrocos, tem duas maneiras de entrar no país: pela fronteira marítima de Tânger ou pela fronteira terrestre de Ceuta. Ambas as fronteiras obrigam-nos a fazer a travessia de ferry. Em Espanha, há dois portos marítimos que fazem esta ligação várias vezes por dia: Tarifa e Algeciras.

  • A compra dos bilhetes dos ferries pode ser feita de forma muito simples pelo site Direct Ferries, onde nos pedem a identificação dos seguintes dados: o número de viajantes (adultos e crianças) e o tipo de autocaravana, incluindo as medidas da mesma. Para quem vai acompanhado por animais também tem de os identificar. No site também é possível ver as diferentes rotas e os horários que existem para as datas pretendidas. Para dois adultos com a Judite, ficou-nos por €178,00 ida e volta, entre Outubro e Novembro de 2019.

  • Como já reservámos bastante tarde os bilhetes de ferry, as rotas que conseguimos, para as datas que tínhamos disponíveis para fazer esta viagem, obrigou-nos a conhecer as duas fronteiras marroquinas: entrámos em Marrocos por Ceuta, via Algeciras, e saímos por Tânger com ligação a Tarifa.

  • Os portos marítimos, tanto espanhóis, como do lado marroquino, estão bem identificados. Na entrada do porto é exigida a apresentação dos bilhetes de ferry. A partir daí terão todas as indicações necessárias para embarcar no ferry correspondente. Normalmente, temos de nos apresentar 1 hora antes do embarque.

  • Em Algeciras, para quem vai embarcar no primeiro ferry do dia, é autorizada a pernoita dentro do porto, já na fila de embarque. Mas é uma pernoita difícil, com bastante barulho vindo das viaturas que vão chegando e estacionando, também a aguardar pelo ferry do dia seguinte.

  • É mais simples sair do que entrar em Marrocos. As fronteiras marroquinas são muito desorganizadas e com muitos funcionários e polícias a fazer exactamente a mesma coisa. A fronteira de Tânger, mais usada pelos europeus, é mais acessível e rápida nos procedimentos necessários durante a entrada ou saída do país. A fronteira de Ceuta é muito desorganizada e pouco usada por estrangeiros, excepto, pelos espanhóis que residem em Ceuta. Contem com um atraso de 2 horas nesta fronteira.

  • Antes da autorização de entrada no país, as autocaravanas são revistadas. Estejam sempre presentes durante estas revistas, pois os polícias da fronteira e da alfândega têm o hábito de desmontar coisas sem autorização. Em Tânger, a autocaravana passa por um raio-x e só se houver dúvidas é que fazem revista. Em Ceuta, este procedimento é muito prolongado, confuso e pode ser um pouco agressivo na forma como fazem a revista. Parece ser uma forma muito comum de forçar um suborno aos estrangeiros. Pelas nossas duas experiências, recomendamos que fujam, se possível, da fronteira de Ceuta.




REGRAS DE TRÂNSITO E CONDUÇÃO

  • Mal começamos a conduzir em Marrocos, percebemos que nas estradas marroquinas tudo é decorativo. Percebe-se que os sinais de trânsito e marcas rodoviárias, incluindo as passadeiras para peões, não são respeitados. A não ser os sinais limitadores de velocidade, como já referimos, a única regra de trânsito cumprida nas estradas marroquinas.

  • As estradas marroquinas, no geral, são boas. As piores que encontrámos foi a que liga Fez a Chefchaouen e a estrada que sai de Marraquexe via Ouarzazate, pela cadeia montanhosa do Alto Atlas.

  • As estradas nacionais que ligam as principais cidades ou pontos turísticos, podem estar em obras, o que se recomenda um maior cuidado, pelo número elevado de maquinaria e trabalhadores nas bermas, a trabalhar sem qualquer tipo de cuidados ou meios de segurança.

  • Marrocos tem uma boa, mas pequena, rede de autoestradas, que liga, principalmente as principais cidades. Estas estradas são pagas, mas os valores das portagens não são elevados.

  • O combustível em Marrocos é mais barato que em Portugal. E existem muitas áreas de serviço e gasolineiras espalhadas por todo o país. Ao atestarmos a autocaravana de gasóleo, quando pedíamos, o próprio funcionário atestava-nos a Judite de água, sem qualquer custo adicional.

  • Embora os marroquinos respeitem as velocidades, as ultrapassagens são a prática mais preocupante e a que nos exigiu uma maior atenção. Na verdade, os dois únicos acidentes de viação que assistimos, no decorrer de 12 dias a conduzir em Marrocos, foram provocados por este tipo de manobra.



  • Se pensam que as autoestradas são as vias onde se cumprem as regras de trânsito, enganam-se. É muito comum ver pessoas a pedir boleia em plena berma da autoestrada. E o mais caricato é ver viaturas a parar para dar boleia.

  • Vão-se habituando às buzinadelas. Qualquer tipo de manobra é feita com a ajuda da buzina. Por exemplo, não se usam piscas para informar que se vai mudar de direcção. Simplesmente buzina-se.

  • Em Marrocos a regra da prioridade assenta na rapidez e iniciativa. Quem se meter primeiro é quem tem prioridade. Esta "prioridade" é reforçada com o recurso à buzinadela.

  • Ainda estamos a tentar perceber a regra das rotundas. Uns param para quem contorna a rotunda. Outros param no meio da rotunda para dar prioridade a quem entra. Só neste caso é que recomendamos que esperem que sejam os marroquinos a tomar a iniciativa.

  • Se ao longo das estradas marroquinas, com vilas e aldeias muito distanciadas entre si, conseguimos perder-nos na solidão destes quilómetros, é nas entradas e no centro das cidades que encontramos o trânsito mais caótico.

  • Quase todas as cidades têm vias muito largas e com várias faixas. Recomendamos que se conduza o mais afastado possível da berma, pois é aqui que tudo acontece. Os vários veículos, os diferentes meios de transporte, incluindo animais de carga com carroças, motorizadas, e peões, usam a berma para estacionar ou caminhar. Mas a qualquer momento podem entrar na faixa de rodagem sem qualquer aviso prévio.



  • Para nós, Marraquexe e Casablanca foram as cidades onde encontrámos o trânsito mais intenso e caótico.

  • Também aprendemos que a melhor altura para conduzir ou sair destas grandes cidades é de manhã bem cedo, já que os marroquinos têm horários diferentes dos nossos. Só por volta das 10h30 é que começamos a ver alguma movimentação no trânsito.

  • Uma das situações mais caricatas que fomos observando foi a forma como os marroquinos mudam de direcção, quando não há separadores de vias de rodagem. Estes não mudam de direcção na perpendicular, simplesmente começam a andar na diagonal em contra-mão, durante vários metros, até encontrar o sítio onde querem virar.

  • Outra situação problemática são as viaturas ou os meios de transporte extremamente carregados, acima do que é permitido, colocando-se em risco e aos que seguem na mesma via.

  • Há muita polícia nas estradas a fazer operações STOP, a controlar, unicamente, a velocidade. Estes estão à entrada das povoações, que podem ser pequenas vilas até às grandes cidades. Nunca fomos mandados parar e sempre foram cordiais.

  • O conselho mais importante que partilhamos é de nunca, mas nunca conduzir à noite. A condução sem regras, as viaturas extremamente carregadas, as ultrapassagens irresponsáveis, com os máximos ligados, podem provocar alguns sustos.



PERNOITAS E ESTACIONAMENTOS

  • Todas as nossas pernoitas foram pesquisadas através do site park4night, tendo em conta as opiniões dos outros utilizadores. E todas estas pernoitas correram muito bem.

  • Em Marrocos encontrámos 2 tipos de pernoita muito utilizados: parques de estacionamento públicos/ privados e parques de campismo.

  • Os valores médios da pernoita são 50 dirhams (€5,00) para os estacionamentos públicos e 110 dirhams (€11,00) para os parques de campismo.

  • Normalmente os parques de campismo têm todas as condições para autocaravanas, enquanto que os estacionamentos públicos são meramente estacionamentos públicos, sem quaisquer equipamentos de apoio para autocaravanas.

  • Todos os parques de estacionamento onde pernoitámos tinham vigilante 24/h, com quem se negoceia a pernoita. Este funcionário que, normalmente, está identificado com um colete reflector, e a companhia de outros autocaravanistas, transmitem uma grande sensação de segurança.

  • Todos os parques de campismo têm serviços/ equipamentos para autocaravanas e o preço está afixado na recepção, o que quer dizer que não é negociável.

  • Como os parques de campismo ficam afastados dos centros das cidades mais turísticas, nestas situações preferimos ficar no centro, em parques de estacionamento vigiados, e não ter de arranjar transportes alternativos para visitar estas cidades.

  • O site park4nignt também identifica bons locais para parar e estacionar, quando pretendemos apenas visitar algumas cidades e locais mais turísticos.




OUTRAS DICAS DA JUDITE

  • Uma das nossas grandes curiosidades era provar a gastronomia marroquina, mas ao fim de 3 refeições, em restaurantes típicos, logo percebemos que todos os pratos marroquinos têm exactamente o mesmo paladar, além de serem extremamente condimentados, mesmo que seja uma simples sopa. Por isso, levem bastante comida de casa, para quando se chatearem das tajines ou dos couscous, poderem matar saudades da variedade e dos paladares portugueses.

  • Em Marrocos, deve-se usar sempre água engarrafada, mesmo quando se cozinha. E não se deve beber sumos ou outras bebidas que venham servidas com gelo.

  • Pode-se entrar em Marrocos com bebidas alcoólicas, mas há restrições ao nível das quantidades. Só mais tarde, já em Marrocos, percebemos que ultrapassámos esses limites e que entrámos no país com produtos que tinham carne de porto, mas a ânsia da polícia da alfândega, na fronteira de Ceuta, à procura de armas e drogas, fez com que nem reparassem nos produtos que trazíamos na Judite.

  • Depois de visitarmos os primeiros souks, os mercados tradicionais das medinas, e observar a extrema falta de higiene e de saneamento destes espaços, não tivemos coragem de comprar carne e peixe em Marrocos. Apenas comprámos, quase todos os dias, legumes e fruta, que são frescos e com muita qualidade. Por isso, fomos fazendo as nossas refeições com enlatados e enchidos que trouxemos de casa, e fizemos algumas adaptações mais pobrezitas da gastronomia portuguesa, como Rancho à Portuguesa, com uma pequena porção de chouriça transmontana, só para dar sabor.

  • A rede de supermercados Carrefour está espalhada por todo o país, principalmente, no centro das grandes cidades. É uma boa alternativa para quem pretende comprar carne e peixe com alguma higiene e segurança.

  • Embora seja raro servirem-nos bebidas alcoólicas nos restaurantes, é possível comprar álcool nestes supermercados, mas os preços são muito elevados e têm de ser adquiridos à parte dos restantes produtos da loja.

  • E por fim, quem pretende viajar por Marrocos, não se pode esquecer de colocar no seu estojo de primeiros-socorros uma embalagem de Imodium Rapid. Por mais cuidados que se tenha, quase de certeza que irá ocorrer, durante a viagem por este país, pequenos desconfortos. Na falta, todas as povoações têm uma farmácia, que normalmente se localiza na entrada ou na saída da vila.


899 visualizações0 comentário
bottom of page